Histórias de Engenho: Os Engenhos de Farinha de Mandioca em Florianópolis. Economia, Cuidados com a Produção, Imagens (1917-1920)

Adriane Schroeder Andermann (Orientador: Fernando Dias de Ávila Pires)
Dissertação de Mestrado
Programa: UFSC/PPGH
Defesa: 1996
Banca:
Resumo: Neste trabalho, apresento três aspectos que se ligam de diversas formas, com relação aos engenhos de farinha de mandioca de Florianópolis. São eles: o aspecto econômico, as preocupações com a produção e a higiene, e, no aspecto cultural, as imagens de tradição e folclore. No estudo desses aspectos, foram abordadas quatro fontes principais: historiografia, documentação legal, imprensa e memória. A parte referente à economia apresentou a farinha como um produto importante, mas pouco se fala do engenho. A segunda parte concentrou-se nos anos de 1917 a 1920, porque nesse período destacam-se alguns aspectos que poderiam influir nas leis sobre a higiene, e atingir ao engenho: a inauguração da primeira fábrica de farinha e fécula de mandioca (Lorenz), a modernização/urbanização, as leis higiênicas e sanitárias desenvolvidas no período. Entretanto, verificou-se que o engenho ficou à margem da inspeção higiênica, e a farinha, quando era fiscalizada, o era na comercialização, e não na produção. Neste ponto, abrem-se duas hipóteses, que podem completar-se, para explicar este descuido com a produção da farinha: influências da Primeira Guerra Mundial e dificuldades na inspeção. Verificando a primeira hipótese, observou-se um aumento nos gêneros alimentícios básicos, inclusive o trigo, conforme dados da imprensa e de leis do período. A farinha de mandioca, produto não perecível, já fazendo parte dos hábitos alimentares locais, poderia eventualmente substituir o trigo, até mesmo na confecção de pães. Assim, não houve um excessivo rigor com a inspeção da farinha, possível substituta do trigo, largamente exportada e alimento básico, principalmente, da camada mais pobre da população. Na análise da segunda hipótese, verificou-se uma concentração fiscalizadora na venda dos alimentos, incluindo a farinha de mandioca. O engenho, geralmente localizado em área rural, algumas vezes de dificil acesso, parece ter sido poupado da fiscalização. As entrevistas confirmam esta idéia: o controle higiênico era feito pelo próprio dono do engenho, de acordo com seu conhecimento e prática diárias, um conjunto de costumes geralmente denominado tradição. E neste ponto da cultura, das tradições, que os autores têm se deparado com o açorianismo. Em busca das raízes e origens culturais, tanto pelos autores catarinenses como pela imprensa, a colonização litorânea por casais açorianos é apontada como fonte dos traços culturais, algumas vezes com certo exagero. Envolvidos nesta cultura estão o engenho e sua farinha, e os aspectos aqui abordados: a economia, as preocupações com a higiene, as relações culturais e muitos outros, estando o campo aberto a novas pesquisas.
Páginas: 174
Financiamento:
  • CNPq
URL: http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/76438